dulcina de moraes

história, arte e legado

Fundadora e Presidente Perpétua da Fundação Brasileira de Teatro

Eu nasci no teatro para o teatro, do teatro, e me sinto felicíssima com isto. O teatro me deu todas as grandes alegrias da vida, todas as emoções. Eu adoro o teatro e acho que tudo que está acontecendo é válido, validíssimo. É transição, movimento, caldeamento, efervescência, e eu espero as grandes coisas que vão surgir. Creio acima de tudo, na eternidade do teatro. O teatro permanecerá e nós com ele.

Dulcina de Moares foi uma ativista das artes! Filha e neta de artistas, pertenceu a uma família de tradições seculares do teatro, que teve seu início nas Companhias Zarzuelas Espanholas, muito populares em Madrid entre os séculos XVIII e XIX. Foi em uma dessas companhias que sua avó, a também atriz Dulcina Bernard, fez carreira. De seu casamento com o ator Servando Alvarez, nasceu Conchita Bernad, uma das principais atrizes do Brasil no final do século XIX e início do século XX. De seu casamento com o também ator Átila Moraes nasce a grande dama do teatro brasileiro, Dulcina de Moares, primogênita do casal.

À época, as principais companhias teatrais do Brasil Império vinham de países como Espanha e Portugal, o caminho para a profissionalização de uma geração de artistas legitimamente brasileiros demorou e não foi fácil. No período da transição do Brasil de império para república, as artes cênicas foram muito negligenciadas, se mantendo anos a fio, por meio de apresentações mambembes.

Nascida em 1908, Dulcina fez sua primeira aparição nos palcos aos três meses de idade (para o espanto da plateia que acreditava que fosse uma boneca, até quando Dulcina irrompeu num verdadeiro choro) e estreou profissionalmente no teatro aos 17 anos, em 1924, na Companhia Leopoldo Fróes, tornando-se uma das estrelas jovens mais ovacionadas na cena cultural brasileira à época. A crítica e a imprensa logo voltaram os olhos para a pequena mulher que se tornara gigante sob os palcos.

Dulcina de Morais, pra mim, a figura mais importantes do teatro brasileiro deste século.

Tempos depois, na Companhia de Procópio Ferreira, conheceu o ator e empresário Odilon Azevedo que juntos, se tornaram o mais badalado casal de atores da primeira metade do século XX.

Dulcina e Odilon formam a própria companhia teatral em 1935 e viveram de perto as crises e as glórias do teatro brasileiro, passando por democracias e ditaduras, ganhando força artística e representando o Brasil em turnês nacionais e internacionais históricas.

A história de Dulcina é recheada de mitologias e muitos a conhecem associada à ideia de um sonho, o sonho de integração dos artistas e do Teatro Brasileiro. Contudo, Dulcina de Moraes foi para além do sonho, uma grande realizadora de conquistas para a categoria dos trabalhadores de artes cênicas no país. Dulcina de Moraes foi uma artista que perpassou todo o século XX no teatro brasileiro. Sua luta ao lado Odilon pelos direitos dos artistas e pelo seu reconhecimento como trabalhadores são conquistas que permaneceram.

Dulcina de Moraes batalhou incansavelmente e graças a ela atores, atrizes e profissionais das artes do Brasil passaram a ter direito a uma folga semanal e mais, o trabalho de atuação foi diferenciado da depreciação e regularizado na carteira de trabalho. 

Sua maior realização a Fundação Brasileira de Teatro, permanece hoje 26 anos após a sua morte, mantendo a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e os teatros Conchita e Dulcina de Moraes.